domingo, 13 de outubro de 2013

JURISTA CIDADÃO

É um imenso prazer e uma honra também abrilhantar este humilde espaço com a magnífica arte da poesia deste professor poeta, ou melhor dizendo deste poeta professor... texto maravilhoso, um verdadeiro deleite àqueles que como eu amam o Direito e a Poesia!!!

JURISTA CIDADÃO

“Poetas existem não para fazer poesia,
Mas sim para transcrever a poesia
Que existe dentro de cada pessoa...”

Assim como as asas sustentam os pássaros
Se sustentam os homens pelos sonhos
Se sonhar ainda é permitido
Acredito na utopia e no horizonte
Se a realidade castra-nos a magia de sonhar
Em devaneios mergulho quando aspiro à justiça

Estado Democrático de Direito
Epopéica conquista humana e histórica
Corporifica tua essência magna Constituição
Monastério jurídico que na égide se impõe

Estado Democrático de Direito
Símbolo sagrado da justiça
Ou simulacro à patuléia renegada?

Mas que Estado é este que se faz nefando
Nefasto a nós se apresenta
Nos atrofia em abadias
Retirando-nos a crítica consciência
E a possibilidade de se indignar?

Mas que contrato social é este?
Filiou-se na doutrina de Rosseau
Que poeticamente descreveu um “status primus”
De perfeita harmonia e justiça social
Em cuja direção caminhamos a voltar?

Assiste razão à Thomas Hobbes
Que anteviu um atual Leviatã
Um homem semanticamente predador
Lobo de si mesmo e destruidor do próprio ego?

Constituição Federal, política, profícua carta
Se suprema és, porque não te respeitam
Curvando-a idiossincrasias, vicissitudes?

Estado Democrático de Direito
Epopéica conquista humana e histórica
Símbolo sagrado da justiça
Ou simulacro à patuléia renegada?

Democracia, onde estás que não responde
Em que quartéis, em que Estado tu te esconde?
És tu profundo adejo em fábula de Esopo?
Somos personagens de uma história
Ou a história através de nós que se constrói?

Democracia, suntuoso devenir para em ti chegar
Para, quem sabe um dia, em ti chegar
Para, quem sabe um dia, teu perfume, ao menos aspirar

Cidadania, íntima e semântica questão
Linda semente que faz rosa desabrochar
Porque insistem em não te exercitar?

Quando escrevia este texto
Abri a Constituição
E ainda estava escuro
Muito depende de nós para que amanhã
Se ilumine um novo dia
Um dia recheado de poesia
Que nos permita continuar a sonhar
Então, me permito indagar

De que vale um poeta
Se lhe retiram a poesia?
De que vale um jurista
Se lhe retiram o Direito?

De que vale a poesia
Sem o semblante da essência?
De que vale o Direito
Sem o semblante da justiça?

O poeta vê a vida
Com olhos que não vêem, sentem
O jurista vê a vida
Com olhos que não sentem, vêem

O poeta faz da vida nostalgia
Procura sempre a magia
Até onde se constata a tristeza
Por seus versos faz beleza

O jurista faz da vida hermenêutica
Procura sempre uma postura exegética
Baluarte em sim não se questiona
Onde estás justiça, moral e ética

Das palavras saem os versos
Por elas o Direito se faz impor
Aparentemente ambos coisas belas
Na prática, às vezes, motivo de torpor

Como podem as palavras
Darem vazão a lirismo tão profundo
E paradoxalmente produzirem
Tão profundas injustiças?

Ao interpretar-se uma poesia
Encontra-se a essência, a beleza e a pureza
Ao interpretar-se o Direito
Injustiças convalescem com firmeza

Talvez quem sabe um dia
Os juristas um pouco poetas tornem a si
Compreendam que Direito também se faz poesia
Que palavras são palavras
E que antes de impô-las
Devem procurar senti-las um pouco mais...


Rafael Barretto